Resiliência Corporativa: Como Engajar, Capacitar e Reter em Tempos de Incerteza
- Fabio de Freitas
- 9 de abr.
- 4 min de leitura

Coautores: Iran Porto Jr. e Fabio de Freitas
Este artigo nasceu de uma vivência compartilhada. Duas trajetórias que se cruzaram em um momento singular, repleto de complexidade, incertezas e decisões difíceis. Iran Porto e Fabio de Freitas, executivos que atuam lado a lado na liderança do processo de Run-Off da Seguradora Líder, decidiram abrir uma janela para os bastidores dessa jornada, um movimento de desconstrução que exige muito mais que capacidade técnica: exige resiliência, coragem e, principalmente, humanidade. Neste artigo, dividimos não só os aprendizados técnicos, mas sobretudo os dilemas humanos, os desafios de engajar pessoas em um processo de encerramento e as estratégias que transformaram um cenário desafiador em um legado de liderança responsável. Esta é uma história sobre transformação. Não da empresa, mas das pessoas que fazem esse processo com profissionalismo, integridade, empatia e inovação.
Nos últimos anos, o termo resiliência ganhou força em quase todos os círculos profissionais. Muito além de uma palavra da moda, ela se tornou uma habilidade essencial — principalmente para quem lidera pessoas em tempos incertos, onde o futuro não aponta para expansão, mas para desmobilização. Foi exatamente esse o cenário que enfrentamos na Seguradora Líder desde o final de 2020, quando iniciamos o processo de Run-Off, ou seja, a preparação para o encerramento operacional da empresa. Em termos práticos, significava reestruturar processos, reduzir sistemas, cortar custos... mas fazer tudo isso sem perder o respeito por quem nos trouxe até aqui: as pessoas.
Resiliência: Liderando em Tempos de Incerteza
Enfrentar a incerteza exige coragem. Sabemos que a resiliência não é apenas a capacidade de se adaptar, mas também de seguir em frente com propósito, mesmo diante das adversidades. Para os líderes, significa tomar decisões difíceis sem perder a transparência, garantindo que a organização cumpra seus compromissos legais, financeiros e éticos. Para os funcionários, resiliência é encontrar caminhos em meio às mudanças, acolher novas oportunidades e seguir crescendo.
Também reconhecemos que a reputação de uma empresa é um reflexo de suas escolhas. Ao agir com ética e honestidade, é possível atravessar momentos delicados com dignidade. A transparência fortalece vínculos, preservando relacionamentos com todos os stakeholders — e deixando um legado de respeito e integridade.
Liderar na incerteza: quando a transformação é para reduzir, não crescer
Estamos acostumados a associar transformação digital a crescimento, inovação, disrupção. Mas nem sempre ela serve para isso. No nosso caso, tratava-se de usar os mesmos princípios: ágil, squads, microsserviços — para criar um plano de desmobilização tecnológica eficiente, responsável e seguro.
Chamamos esse movimento de Desconstrução Digital: um caminho inverso ao da escalabilidade, mas igualmente complexo. Era preciso repensar toda a operação, reduzir infraestrutura, eliminar legados críticos (como o mainframe), e garantir que a experiência do cliente e as obrigações legais e regulatórias fossem preservadas.
“A verdadeira prova de inovação está em aplicar tecnologia para resolver problemas reais — mesmo que isso signifique desconstruir o que foi construído ao longo de décadas.”
E tudo isso, claro, só seria possível com gente qualificada, motivada e bem conduzida.
A fórmula: Resiliência + Comunicação Clara + Capacitação + Confiança
1. Comunicação clara e empática: a base da confiança
O primeiro desafio foi quebrar o tabu da incerteza. Ao comunicar com transparência cada etapa da jornada, desde o diagnóstico até as possíveis consequências, criamos um ambiente de segurança psicológica. Sim, havia tensão. Mas também havia diálogo.
Não escondemos as dificuldades, mas também não deixamos de mostrar que cada colaborador era parte de uma missão maior. Ao explicar os porquês — os motivos da transição, os impactos nos times, construímos alinhamento e propósito, até mesmo entre aqueles que sabiam que o fim de sua jornada conosco era uma possibilidade real.
2. Capacitação contínua como ferramenta de dignidade
Mesmo com cortes orçamentários severos, não deixamos de pensar em capacitação. Mais que uma estratégia de negócio, foi um compromisso humano.
Em 2021, o foco foi preparar as lideranças e áreas para a transformação digital. Em 2022, ampliamos o repertório, buscando o que o mercado fazia de melhor. Em 2023 e 2024, aprofundamos competências técnicas. Agora, em 2025, inserimos inteligência artificial e segurança de dados na rotina.
O resultado? Alta retenção dos profissionais remanescentes, com investimento zero em bônus ou retenção financeira. A permanência veio pela valorização pessoal e profissional.
3. Gestão de pessoas: entregar profissionais melhores ao mercado
Um dos nossos princípios foi simples e poderoso: as pessoas que passaram pela nossa gestão devem sair melhores do que entraram.
Essa mentalidade moldou todas as nossas ações. Criamos trilhas de capacitação, fizemos mentorias, promovemos talentos internos e garantimos visibilidade de mercado para os profissionais. O impacto foi real: mesmo com redução de quadros, o nível de engajamento e entrega permaneceu altíssimo.
Isso nos lembra que liderar vai além de entregar resultados — é também preparar pessoas para novos voos.
Resultados que contam histórias
O processo de Run-Off resultou em:
● Redução de mais de 70% no orçamento de TI em relação a 2021.
● Desmobilização completa do mainframe, migrando mais de 50 sistemas e 20TB de dados sem incidentes críticos.
● Criação de novas aplicações CORE, focadas na eficiência e na continuidade operacional.
● Mais de 700 adequações sistêmicas, simplificando processos e eliminando redundâncias.
● Retenção voluntária de talentos porque estavam engajados em algo maior.
Esses números contam parte da história. Mas o que nos orgulha mesmo são os bastidores: o carnaval 2022 em que 40 pessoas trabalharam incansavelmente para uma migração crítica; as salas de crise que viraram salas de vitória; os profissionais que, mesmo em seus últimos meses, ensinaram, inovaram, entregaram muito além do que se esperava.
Liderar com resiliência é dar protagonismo às pessoas
Não existe transformação verdadeira sem cultura. Não existe cultura sem liderança. E não existe liderança se não colocarmos as pessoas no centro da equação.
A jornada da Seguradora Líder é sobre fazer o certo, mesmo quando o cenário é adverso. É sobre aplicar os melhores métodos da transformação digital em uma missão de encerramento, com a mesma seriedade de um projeto de crescimento.
"A tecnologia viabiliza. A gestão viabiliza. Mas são as pessoas que realizam."
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