O maior projeto SAP do setor de bebidas na América Latina: o que aprendi liderando essa jornada

A DIMENSÃO

Em 2012, iniciei a maior implementação de SAP do setor de bebidas na América Latina, em uma empresa de grande porte do setor de bebidas. Foram mais de 20 soluções SAP entre módulos e produtos, cerca de 250 profissionais, 54 blueprints, 300 customizações, 4.500 cenários de teste e R$ 90 milhões investidos em infraestrutura, licenciamento e consultoria. Os números demonstram a magnitude do projeto bem como as exigências de qualidade, eficiência e tempo de entrega, trabalho sob pressão.

O projeto era robusto e transformador, mudando radicalmente a maneira como a empresa operava. Seu impacto se estendia por toda a organização, desde as compras de insumos até a comercialização de produtos, passando pela gestão de pessoas, logística e fechamento de resultados. Foi uma verdadeira reinvenção dos processos, que criou, aprimorou e elevou as operações a um novo patamar, preparando a companhia para crescer de forma sustentável e competitiva.

Desde o início, mudanças estratégicas geraram insegurança entre gestores e atrasaram a aprovação dos Blueprints. O clima de incerteza minava a confiança e dificultava negociações. Pude ver na prática que em projetos complexos e de grande porte, transparência e alinhamento entre estratégia e tecnologia são fundamentais. Sem forte patrocínio da alta direção, você ficará pelo caminho.

OS DESAFIOS

A alta rotatividade de consultores foi um dos maiores desafios do projeto, drenando tempo e energia preciosos. Cada nova troca era como recomeçar do zero: era preciso reiniciar alinhamentos, ajustar expectativas e reconstruir a sintonia entre consultores, soluções propostas e áreas de negócio, o que gerava desgaste, retrabalho e aumentava a ansiedade na área de negócios. Busquei consultorias especializadas e trabalhei com o RH para implementar ações de retenção, mas ainda assim as trocas deixaram marcas profundas na equipe. Esses ciclos desgastantes exigiram resiliência e determinação, mostrando que, em grandes transformações, a força do time e a capacidade de manter todos engajados são essenciais para seguir em frente.

Também enfrentamos atrasos severos nas entregas planejadas da consultoria contratada, que consequentemente nos levou a renegociação de prazos e, ao final, à rescisão do contrato. Foram 40 dias de projeto congelado e noites longas em reuniões para encontrar soluções, rediscutir metas. Nesses dias, aprendi a importância da resiliência, da serenidade em meio ao caos e liderar com empatia, mesmo sob extrema pressão.

Houve ainda o desafio da centralização dos processos financeiros, que, de certa forma, trouxe incômodo e desconforto aos gestores das diversas regiões do país, gerando sentimento de perda de autonomia. Foi preciso construir pontes, comunicar benefícios e negociar concessões para evitar rupturas. Grandes projetos mexem com a cultura organizacional e cabe ao líder unir as partes em torno de um objetivo comum.

OS APRENDIZADOS

Apesar dos meses de atraso no go live, os resultados vieram: o que planejamos começou a se concretizar, e a centralização trouxe ganhos expressivos de eficiência e controle, sustentando a expansão da companhia.

Descobri que projetos dessa magnitude precisam ser divididos em fases menores, permitindo ajustes e melhor assimilação das mudanças. Recomendo que nenhum projeto dessa natureza e magnitude seja iniciado sem o devido mapeamento dos processos, assim como um trabalho sistêmico de gestão de mudanças.

Aprendi, acima de tudo, que é fundamental ter discernimento sobre em quem depositamos nossa confiança, pois nem todos compartilham dos mesmos princípios e valores.

Essa jornada foi a maior escola da minha vida profissional. Compreendi que transformação exige coragem para enfrentar conflitos, humildade para evoluir com os erros e a habilidade de manter o time unido, mesmo em meio às maiores adversidades. Transformação não acontece sem dor, mas é justamente no desconforto que nascem líderes mais fortes, preparados para os desafios do futuro.

O desfecho desta história não foi como eu gostaria, mas isso é tema para outro artigo.

E você, qual foi o maior desafio que enfrentou em seus projetos?

Meu agradecimento ao Agostinho Silva e Audrenilson Barbosa. As suas contribuições e observações enriqueceram o texto.

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